É subejamente sabido que o cinema de terror teve o seu grande momento iniciático no decorrer da década de setenta, tendo amadurecido nos últimos anos deste período e começado o seu curso descendente no começo de noventas, tendo hoje caído num abismo.
Note-se que este género provém, à partida, de uma tentativa de criacção cinematográfica mais plástica do que, porventura, narrativa (o cinema, em particular o clássico pós-Lumière, tentava a transposição literária plena). A ausência do som no cinema traía as pretensões dos criadores pro-dramáticos/ dramatúrgicos, limitando o seu leque de recursos, medidas as distâncias.
Portanto, para alguns, o trabalho do visual revelava-se o mais aliciante. Enquanto alguns o trabalharam segundo uma tendência misticista e transcendental, outros com o decorrer do tempo e as mutações sociológicas (anos 50 e 60) remeteram-se a um enchimento vitoriano da imagem - mais uma vez o mergulho numa literatura desta vez gótica, de onde sairam os mais memoráveis clássicos ditos de culto, do género.
Nomes como Bela Lugosi enclausuraram-se no seu nicho dando vida a uma senda de entertenimento capazes de após a depuração do acessório, se revelar autêntica. Criou-se assim um novo panteão artistico construído já desde os filmes de aventuras, trazendo ao mundo palpável o que outrora pertencera apenas às letras e pontualmente às artes de palco.
Este método de trabalho prolongou-se ao longo dos anos, aprimorando-se através das obras contemporâneas (de Stephen King, etc). No entanto, como qualquer criação dependente de conceitos exteriores a si mesma, tendeu a esgotar-se. A autenticidade destas mantém-se apenas em industrias onde a cultura folclórica não encontra precedentes, como é o caso do cinema asiático e indiano.
De facto, é de antropologia cultural que aqui se fala. Mais do que a dita originalidade ou capacidade de mercado nos diferentes pontos do mundo. Torna-se portanto natural que num país recente como o de Hollywood este imaginário se limite a determinados grupos de jovens, reunidos em diferentes campus estudantis, etc, facilmente confundidos com a recente comédia fácil de actuais sagas.
Não admira o espanto perante o sucesso mediático de filmes asiáticos, europeus e indo-americanos, contra os de índole yankee.
Com a efabulação de uma lenda são possiveis resultados espantosos. "Sexta-Feira 13", "Pesadelo em Elm Street", "The Fog", etc, possuem qualidade invejáveis na criação do mito contra a apropriação do mesmo. Craven e companhia assumiram o papel que na Europa Bram Stoker, Mary Shelley, Louis Stevenson, etc, tiveram na criação de determinadas bestas. Deram-lhes um nome, eternizaram-nos, porém presos no literário.
O terror é uma fonte inesgotável e de grande potencial de exploração artística do cinema como arte individual e de cariz autoral indomáveis.